Pedro M. Lourenço
A despedida

O rio parecia um lago, espraiado no leito largo do seu estuário. Águas calmas, margens plácidas, embaladas no murmúrio quase ternurento da pequena ondulação que beijava incessantemente aquela praia de areias brancas e rochas escuras.
O barco partia por fim, despedia-se daquelas paragens calmas com o silvo grave da sirene. No ar as gaivotas e as andorinhas-do-mar despediam-se também com assobios e gritos estridentes, enquanto procuravam vislumbrar nas águas pardacentas algum sinal da sua próxima refeição. A embarcação pintada em tons cinzentos começou a mover-se, primeiro lentamente, depois cada vez mais depressa. A proa começou a sulcar as águas numa comoção de espuma e ondas, enquanto o mar se fendia sob o casco como que acolhendo o navio no seu leito frio e salgado. A refrescante brisa que se levantava do alto, assim como os suaves salpicos que pintalgavam as faces dos passageiros, eram tanto uma bênção como um aviso. O mar podia ser o mais belo dos anfitriões, mas também se podia facilmente tornar no mais insensível dos carrascos.
Depois dos primeiros metros navegados um cortejo de golfinhos juntou-se à procissão. Os alegres foliões dos mares vinham brincar nas ondas levantadas pelo imponente casco cinzento, enchendo o mar de animação e o peito dos passageiros de esperança. Havia sorrisos nas faces que do barco olhavam terra, outros entre os olhares que de terra perscrutavam o convés do barco em busca de uma face familiar. Mas, aqui e ali, uma lágrima honesta sulcava as bochechas sorridentes e mentirosas. Partiam para a guerra, muitos nunca voltariam...