Pedro M. Lourenço
A esfera branca

Como um pequeno planeta numa órbita estrelar, a esfera branca multifacetada percorria o seu caminho. Caminhava com a segurança dos corpos celestes, com a confiança de quem nunca duvidara do curso a seguir.
A curva que seguia levou-a a desviar-se dos vários corpos que a tentaram interceptar, arrastando consigo os fragmentos verdes da matriz que compunha este Universo numa casca de noz. Um último objecto permanecia no seu caminho, um corpo vastamente maior que a esfera, que se deslocava rapidamente numa trajectória de intercepção.
A esfera seguia rápida, decidida. O interceptor esticava o seu movimento com o claro intuito de impedir o pequeno orbe branco de cumprir a sua finalidade. O desastre parecia inevitável, o confronto imensamente desigual. No momento decisivo a esfera branca escapou inacreditavelmente por entre os dedos gananciosos do seu adversário. Liberta deste último entrave, a bola percorreu facilmente os últimos centímetros até ao seu destino. Atravessou o limite imaginário do espaço que uma linha branca delimitava na matriz verde do Universo. Um momento único de alegria uniu a realidade num grito de alegria, numa orgia de satisfação desmedida.
A pequena bola de futebol aninhou-se no fundo das redes da baliza perante o olhar desalentado do guarda-redes que falhara por escassos milímetros a defesa. Golo!
Pedro M. Lourenço in "À sombra de uma estrela intermitente"