Pedro M. Lourenço
Fogo

O fogo queima, o fogo destrói. O fogo renova, o fogo cria. Na noite eterna da infância da humanidade, o fogo foi a luz que pela primeira vez fez da noite dia. No passado conturbado da nossa sociedade, o fogo foi vezes e vezes sem conta a arma que arrasou vidas e nações. Mas, na sua raiz, a relação entre o homem e o fogo é uma relação de amor. Não foi pois o fogo a primeira expressão da nossa capacidade de vergar os elementos a nosso favor?
O fogo que mata, queima e destrói, é o mesmo arder infernal que permite criar tantas das nossas criações maiores: o vidro, o ferro, a combustão que nos leva até às estrelas. Contudo, quem já se sentou em redor de uma fogueira numa noite escura sabe qual é a grande virtude do fogo. O fogo é calor, mas é também proximidade. É ponto focal para partilha e amizade. Talvez por isso arrisco dizer que o poeta estava errado. O amor pode também ser um fogo que arde e que se vê, e que ilumina a noite e as faces alegres de quem em seu redor compartilha calor humano.