Pedro M. Lourenço
O mar feito espelho

Aquele dia amanheceu com a promessa de sol e céu azul. O ar estava envolto numa calma solene, apenas perturbada, ou talvez emoldurada, pelo doce rumorejar do oceano e pela infindável cantilena das aves. Naquela ilha selvagem, longe de terras, homens e confusões, preparei-me para sair, inspirei profundamente o ar salgado, e calcorreei as centenas de degraus íngremes que me separavam do planalto.
Foi lá de cima que o vi. Aquele mar azul sem fim, que rodeava a ilha inquebrado em todos os horizontes, tinha-se feito espelho. Vinham-se nele mirar as nuvens que aproveitavam aquele dia sem vento para dedicar a languidez à vaidade. Eu, sem fôlego perante tal cenário, atrapalhei-me com os fechos da mochila para chegar à câmara e tirar uma fotografia daquele instante. Imperfeita, não fez justiça ao que os meus olhos viam, mas serviu desde esse dia para avivar a recordação daquele momento mágico.