Pedro M. Lourenço
O génio da lâmpada

Era o último dia do Verão. O Sol quente de Setembro começava a dar lugar ao vento fresco do Outono que vinha expulsar as folhas dos seus ramos. Eles eram sete. Sete desconhecidos que se haviam encontrado na praia em redor de um curioso objecto, uma lâmpada mágica. Depois de alguma discussão, decidiram esfregar a lâmpada, na esperança que dela surgisse o proverbial génio com os seus desejos.
Para surpresa geral, saiu realmente um génio da lâmpada, envolto numa nuvem de fumo, vestido com trajes mouriscos e um turbante. Mal saiu, notou com uma voz profunda e gutural:
- Ena tantos! Assim sendo só posso dar um desejo a cada um. Digam lá meus amigos, qual era a coisa que realmente vos faria felizes?
Chegou-se à frente um homem de meia-idade, com excesso de peso e falta de cabelo na nuca:
- Eu quero dinheiro, muito dinheiro para comprar tudo o que desejo.
- Seja. - Respondeu o génio - Vai ao multibanco mais próximo e gostarás de ver o saldo da tua conta bancária.
De seguida aproximou-se uma mulher jovem e bonita que disse:
- Eu quero ser a mulher mais bela do mundo, quero que todos os homens tremam de desejo quando me virem.
- Seja. Da próxima vez que te vires ao espelho verás o teu desejo realizado.
Seguiu-se uma velhinha com talvez uns noventa anos de idade, que na sua foz fraca disse simplesmente:
- Eu quero ser jovem outra vez.
- Seja. Da próxima vez que apagares as velas, elas serão apenas vinte cinco.
Aproximou-se então um homem, na casa dos trinta, de cabelo escuro e óculos de aspecto clássico:
- Eu quero inteligência, quero ser o homem mais genial do mundo.
- Seja. Nunca voltarás a conhecer um problema para o qual não encontres solução.
Seguiu-se uma mulher, com ar sério e decidido:
- Eu quero poder, muito poder.
- Seja. Tornei-te a pessoa mais carismática do mundo, na política poderás chegar ao cargo de poder que queiras.
Agora aproximou-se do génio um homem de cabelo cuidado e fato de banho de marca:
- Eu quero ser famoso, quero que toda a gente me conheça.
- Seja. Amanhã serás convidado para uma festa VIP e nunca mais sairás da ribalta.
Faltava apenas o rapaz alto e taciturno que esperava pacientemente a sua vez atrás dos outros. Foi o génio que lhe dirigiu a palavra:
- Então e tu?
- Eu? Eu só quero ser feliz.
O génio olhou para ele longamente, engoliu em seco duas ou três vezes e depois disse-lhe ao ouvido:
- Olha lá, não te importas de pedir outra coisa? É que vais estragar a minha reputação pois esse é o único desejo que não consigo realizar.
Pedro M. Lourenço in "À sombra de uma estrela intermitente"