Pedro M. Lourenço
Esculturas ao sol

Adonga é nome que sabe a trópicos, como o é Imbone, outra ilha ali bem perto. São palavras que transpiram África, que se mastigam como a papaia fresca e deixam no ar o toque de clareza do aroma a café acabado de fazer. Quem tem o privilégio de conhecer estas ilhas remotas, do arquipélago dos Bijagós, reconhece-lhes as praias de areal branco, as florestas de palmeiras e os prodigiosos mangais que a uma hora parecem brotar do próprio mar para horas depois se esconderem atrás de infinitas extensões de lamas moles descobertas pela descida da maré.
A subida do nível dos mares e a erosão das costas tem um efeito nefasto sobre as árvores que arriscam viver junto ao oceano. Depois de mortas, elas convertem-se em solenes monumentos a um passado ainda há pouco vivo. Branqueadas pelo inclemente sol tropical e pintadas pela luz intensa dos dias quentes e secos, elas transformam-se em esculturas que desafiam o olhar de quem as avista ao caminhar aqueles areais sem fim.